Quer saber o porquê?
Acredito que todos os deuses, antigos ou atuais, são criações humanas, pois simplesmente não conseguimos aceitar a ideia da morte. Gandhi disse: “viver seria um passatempo absurdo se tudo acabasse com a morte”. A ideia da presença de um deus é tão forte culturalmente que acaba por (de)limitar a visão de mundo, quase sem questionamentos. Se você tivesse nascido árabe, provavelmente acreditaria em Alah. Se tivesse nascido tupi-guarani rezaria para Nhanderuvuçu ou Tupã, seu mensageiro-trovão. Se fosse um egípcio há três mil anos, teria mais de uma dezena de deuses para lhe explicar o mundo. Somos nascidos no ocidente, na América, e devemos ser, culturalmente falando, cristãos. Todos os outros deuses tendem a parecer ridículos e fantasiosos, menos o nosso. E são milhares deles!
Mitos. É o que são todos os deuses, independentemente da época ou cultura. Personificações mitológicas para confortar nossa finitude e imperfeição e para fornecer respostas prontas a nossas inquietações. Em meu modo de pensar, a humanidade ainda se libertará de deus e poderá atingir seu verdadeiro potencial. Deixaremos de acreditar no divino e passaremos a cuidar mais do humano. Deixaremos de lamentar passivamente nossa frágil condição e passaremos a construir o verdadeiro bem-comum. Aí sim teremos paz, igualdade e fraternidade. Como dizia John Lennon: “imagine there’s no heaven... and no religion too”.
Pensar assim não significa deixar de aproveitar o que de bom ensinam as religiões. Pensar assim não significa jogar fora as virtudes, o bom senso, a responsabilidade e a moral. Exercer tudo isso sem a noção de um juiz observador pode ter mais valor do que fazê-lo apenas pelo temor do julgamento e da punição do sofrimento eterno. Mesmo sem estar engajado em algum programa voluntário, minha espiritualidade chama-se altruísmo, seja como mera esperança, concepção de mundo ou ideologia de humanista secular.
Se essa leitura puder proporcionar uma nova perspectiva a considerar, já terá valido a pena.